quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Pensei dezenas de vezes antes de postar…

Tenho esse post em mente desde que comecei a escrever em apenas uma página do Facebook,que a ideia nem era blog ainda.

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Bem,se você veio até aqui,provavelmente é meu amigo ( a ) e está a fim de ver meus desabafos.Ou até,uma pessoa que caiu aqui pelo Google e achou interessante… Pois bem… Então começarei…

Já me senti comparada a essa personagem do cinema, a Murta-Que-Geme,de Harry Potter.Para quem não conhece,é o fantasma de uma aluna que vive no banheiro,apenas gemendo e reclamando da “vida”… Assim que me senti muitas vezes quando fui queixar-me de algo como alguém: Um fantasma indesejado,do tipo “-Para de reclamar,tem gente com vida muito pior que a sua! Não tô a fim de ouvir seus lamentos!” Pois bem,então me calo,e escrevo.
Bem,não criei blog para falar mal de ninguém.Afinal,considero isso muito baixo nível.E até porque,não dou nome aos personagens,digo apenas suas “falas”,coisas que foram ditas a mim e marcaram.

REMENDOS

Eu estava lendo hoje,que crianças que apanham têm mais chances de desenvolver doenças do coração,câncer etc.Fiquei com vontade de comentar “E as que apanham emocionalmente? Desenvolvem problemas emocionais?”…Mas ninguém tem a ver com os meus problemas!
E as interrogações são desnecessárias,já que eu sei disso na pele.Enfim…

Nasci numa casa com pai e mãe,e família do pai nela.Sou filha única.Eu presenciava algumas brigas,mas nada “fora do normal”.Embora fosse bem sozinha,como se fosse protegida do mundo,eu posso dizer que eu era,pelo menos um pouco,feliz: Nunca me faltavam os brinquedos e as guloseimas de criança que eu amava.Eu assistia minha mãe fazer os serviços domésticos e ficava implorando para ajudar,mas era muito pequena,ia atrapalhar mais do que ajudar… Brincava com meu pai,assim que ele chegava do trabalho.Enquanto um estava no serviço de casa e outro trabalhando fora,eu assistia TV.

Mas um dia,as brigas entre minha mãe e a família do meu pai ficaram insustentáveis: Meu pai,segundo minha mãe e as lembranças nebulosas que tenho (afinal tinha 6 anos) tomava partido da família dele.Entre muitos gritos,xingamentos e choro,lembro-me de quando minha mãe e eu fomos praticamente escorraçadas de nossa própria casa,e fomos morar na casa de familiares da minha mãe.

Embora tivessem nos acolhido,lá também havia muitas brigas,xingamentos e choro.Nunca me faltou comida ou nada básico,porém,por exemplo,eu tinha estudado sempre em escola particular,e tive de ir para a pública(e quem já estudou nos dois tipos de escola,sabe que há uma diferença!).

Não sofri agressões físicas.As cicatrizes que eu tenho,são de brincadeiras de infância,como cair brincando de pique,ou tropeçar na corda enquanto pulava.Porém,da minha mente,não posso dizer a mesma coisa: Tenho memórias que eu posso dizer que daria a minha vida para apagar.E se achar que estou fazendo drama,como me disseram quando criança, “a porta da rua é a serventia”…

Já houve vezes de eu reclamar de algo,que estava triste por meus pais terem se separado,ou ter ido pra escola pública,qualquer coisa assim,e ouvir que era pra tomar vergonha,que havia gente que não tinha nem o que comer,nem pai nem mãe e eu reclamando de “barriga cheia”.Como disse minha terapeuta, “-Não há medida para a tristeza,as pessoas têm sensibilidades diferentes,Sakura.Não há um medidor/obrigatoridade,como por exemplo,você só pode ficar 12% triste.”Eu deveria ter dito isso na cara da pessoa que me disse isso.Mas com toda a certeza,ela rebateria.Me faria sentir mais vilã,porque é isso que eu me sentia quando falavam comigo dessa maneira. “Poxa…aquela minha colega,fiquei sabendo que o pai dela é um bêbado que bate na mãe e ela não reclama.” Mas agora eu penso: E DAÍ? E daí a minha colega? O máximo que posso fazer é acolhê-la se vier desabafar.Já tenho meus problemas para me preocupar.E o dela ser maior,não faz o meu desaparecer.E aliás,EXISTE MAIOR E MENOR? Passando na pele? É muito fácil? Fica no meu lugar então,filho da puta!

Sem falar nos opostos: Pessoas que deixavam eu fazer o que quisesse,e outras que diziam que tudo o que eu fazia era errado e queriam proibir,como por exemplo,fechar a porta do quarto.

Lembro-me de um episódio,(eu tinha cerca de 7 anos né,em todos esses acontecimentos) em que fui visitar meu pai.Eu era criança,não apurava os fatos.Não tinha nada contra a família dele.Então,na minha visita,uma pessoa de lá fazia bijuterias.Eu quis brincar de montar colares,e a pessoa me deu

as pedras maiores e mais diferentes,justamente as que não vendiam.Eu não tava ligando se eram bonitas ou feias,nem tinha gosto tão apurado para isso.Tava era feliz com a brincadeira.Então,fiz um cordão e uma pulseira.Usei-os.A pessoa disse-me que estava linda.Ao fim da visita,voltei à casa da família da minha mãe.E riram da minha cara.Riram do meu colar e da minha pulseira.Disseram que estavam ridículos,pareciam de macumba.Foi uma coisa simples,mas ajudou a minar boa parte da minha autoconfiança.E mais uma vez,quem achar que eu estou fazendo drama…bom,nem preciso dizer novamente.Meus sentimentos,quem sabe deles sou eu.

Brincaram com a minha mente.Maldade? Ignorância? Não sei. Só sei que cada pessoa me dizia uma coisa: Uma que meu pai (que morreu quando eu tinha 8 anos,no meio dessa confusão toda,em outro “episódio” que daria um longo post) era uma boa pessoa,me amava,e outra que meu pai xingava e humilhava minha mãe… Pior ainda quando a mesma pessoa me dizia as duas coisas.Tudo bem,as pessoas podem mudar de ideia sim.MAS PORRA,A CABEÇA DE UMA CRIANÇA SE CONFUNDE FÁCIL!
Hoje,não mais criança,e sim jovem,tento esclarecer as lembranças turvas que não consigo clarear,mas também não consigo jogar fora.Juntar as diferentes versões que as pessoas me deram,ou tentar descobrir quem tá falando a verdade e quem quer me confundir.Descobrir se existem duas verdades.Descobrir,mesmo que eu já tenha sido desencorajada por algumas pessoas,a minha vida.A minha história.Pois até hoje eu não engoli o que aconteceu.O modo que eu saí da casa do meu pai,o modo que minha família se desfez.Minha mãe ter sido praticamente proibida de dar o último adeus ao pai da filha dela… Isso dói muito.Saber que quando saímos da casa de parentes e alugamos um lugar,não tínhamos dinheiro pra ter sequer um telefone,e dormíamos num maldito sofá-cama,depois de,na casa do meu pai,ter 2 carros na garagem.Passou,passou sim,hoje eu tenho telefone,computador e internet,de onde escrevo isso.Passou,mas a lembrança ficou e ainda dói.Dói muito.Desde meus 11 anos,pouco depois da situação ter “esfriado” (porque dentro de mim ela ainda fumega feito lava),eu tenho raiva.Profunda.Ódio.Quero saber quem é o verdadeiro culpado da desgraça da minha família,da minha desgraça.Se é a família do meu pai,se tem alguma outra pessoa… Só sei que eu quero que esse culpado pague.E não pela justiça do homem nem de Deus.Mas pelas minhas mãos,pelas mãos da criança que não pode fazer nada enquanto sua família ruía.Tenho que ter um autocontrole praticamente heroico para não ir até a minha antiga casa e matar cruelmente os que a tomaram de mim,da minha mãe.Mas é crime,infelizmente.Nada me resta por agora senão escrever.Ainda não é proibido,certo?

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Eu quero paz.Eu quero que o que aconteceu fique resolvido dentro de mim.As cagadas já feitas eu não posso consertar,como por exemplo,crescer brigando contra tudo e todos na escola,por causa da raiva que existe dentro de mim.Ter feito inimigos,desnecessariamente,enquanto todos viravam amigos,e eu me isolava.Quero poder assistir a filmes violentos (do tipo que eu gosto,já devem saber o porquê) sem sonhar com eu voltando e banhando todo o chão da minha antiga casa de sangue.Sem ter taquicardia.Sem salivar.Quero ouvir notícias do tipo “ Mulher mata marido por ter sido traída” e não dizer “Bem feito,mereceu”…

Apagar a memória,já tentei,sem sucesso.Colecionar as cabeças dos culpados? Seria ótimo.Porém eu iria presa,e embora a depressão diga que não há ninguém que goste de mim,eu faço o esforço para acreditar.Para lembrar da colega que pergunta todo dia se estou bem.Da minha mãe,que sempre me recebe com beijos e abraços.Então há pessoas que gostam de mim sim,e sofreriam se algo me acontecesse.

Mas no meio de toda essa dor,me agarro a uma esperança: Construir uma nova família e deixar essa merda toda de lado.Me casar,ter filhos.E que pelo amor de Deus,pelo amor,piedade,misericórdia e tudo sagrado e não sagrado,que não aconteça o mesmo que quando eu era criança.

Que eu tenha filhos,muitos filhos,e que eles tenham uma infância feliz,saudável,sem traumas.Eu sei que

ninguém pode fazer com que só coisas boas aconteçam,isso é impossível,mas você leitor,deve entender do que estou falando.Não existe família perfeita,nunca,mas pelo menos feliz e unida! Sem esse tipo de coisa. Porém os sonhos têm limites,eu sei.Tenho 17 anos e nenhum namorado.Isso me preocupa.Não penso em grande emprego,faculdade…apenas em família,uma nova família.Se eu pudesse,teria me casado aos 12 anos.Mas eu sei que devo “puxar o freio” e não me jogar nos braços do primeiro cara que aparecer,assim,só poderia sofrer mais.Família virou uma obsessão,casar,ter filhos,itens vitais.Mas cada um tem suas ambições,vícios,obsessões.Não podem me culpar,nem condenar.

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